A Estrutura de Uma História

Por Sandro Massarani Para um melhor entendimento deste texto leia antes Elementos Fundamentais de uma História. Não esqueça de usar para o rascunho e planejamento de sua obra a Ficha de História (PDF). INTRODUÇÃO Chega uma hora que o fã de cinema, quadrinhos, literatura e outros tipos de arte, deseja contar a sua própria história. Por achar que já leu diversas obras e que viu bastantes filmes, acha que basta sentar em sua cadeira e começar a escrever que a inspiração irá lhe abençoar e que apenas sua experiência como leitor/espectador será suficiente. O resultado na maioria das vezes é desastroso. A escrita de uma história não deve ser feita somente por instinto. O verdadeiro escritor cria o seu método, e planeja com detalhes sua obra antes de começar a efetivamente escrevê-la. É lógico que há exceções, mas é cada vez mais raro uma obra de qualidade ser feita de forma amadora e sem planejamento. O trabalho do escritor é muito mais transpiração do que inspiração. Inspiração vem como consequência de você ter a disciplina para analisar centenas de histórias, de todo dia criar pelo menos uma página, de pensar na escrita como algo constante. Pode parecer um discurso batido, mas na vida é a persistência junto com o estudo que realmente lhe dá maiores chances. Portanto, escrever uma história não é simplesmente sentar e colocar no papel ou no computador o que vier na sua cabeça. Deve haver uma estrutura por trás de tudo. Aristóteles, um dos mais antigos filósofos e pai da construção narrativa já dizia: toda história deverá ter início, meio e fim. Vamos então desenvolver as idéias de Aristóteles e de outros estudiosos da escrita. Só nunca esqueçam de que as regras são feitas para serem quebradas, e que nunca devemos nos tornar escravos dessas regras. Aprenda a teoria ensinada nas universidades, livros e cursos de escrita, mas aplique seu próprio método e estilo. A ESTRUTURA DOS ATOS À partir da premissa de que toda história tem início, meio e fim, podemos transformar essas etapas em atos: Ato I (início), Ato II (meio) e Ato III (fim). Alguns autores, como Shakespeare, utilizam outras estruturas como a de cinco atos, mas acredito que toda história possa ser, de uma forma ou de outra, sintetizada em apenas três atos, nem que seja para facilitar o aprendizado e ser nosso ponto de partida. Esquema da Estrutura dos Atos ATO I (30%) | Mundo Ordinário e/ou Gancho (Hook) | O Incidente - Distúrbio (Inciting Incident) e/ou Gancho (Hook) | Estabelecer situação e conflito | Primeiro Ponto de Transição (Plot Point) | ATO II (55%) | Desenvolver e complicar a situação | Ponto Central (Midpoint - opcional) | Desenvolver e complicar a situação preparando para o Clímax | Segundo Ponto de Transição (Plot Point) | ATO III (15%) | Eventos iminentes que levam ao Clímax | Clímax - Impacto Visual Destacado | Epílogo (Denouement) ou Cliffhanger (Gancho para a continuação) O Ato I É o Ato introdutório, que não deve durar mais do que 30% da história (às vezes bem menos), senão corre o risco da audiência perder o interesse na obra devido à falta de um conflito central bem definido. O introduzir do Ato I pode ser marcado pela descrição do Mundo Ordinário do personagem principal. No início de sua história, você começa descrevendo o personagem em seu mundo comum, na sua vida cotidiana. O que ele geralmente faz no dia-a-dia. E é nesse lugar que ele vai ficar a não ser que algo faça ele mudar. Então bem cedo no Ato I, algo tem que perturbar (algum incidente) o Status Quo (a situação estática). Alguma coisa sempre tem que estar acontecendo, alguma ameaça ou conflito para o personagem, senão o leitor/escpectador ficará entediado. Se você não quiser começar a história com o Mundo Ordinário do personagem, comece-a utilizando um Gancho (Hook). O Gancho é algo que aparece no início da obra e faz a história se mover (sempre mova a história) e prende o leitor a continuar assistindo ou lendo. Por exemplo, um assassinato misterioso pode ser o Gancho inicial de uma história, e só depois é que seremos apresentados ao personagem principal e ao seu mundo cotidiano. Geralmente, o Gancho deve vir o mais rápido possível, para manter a audiência atenta. Outro Gancho interessante é começar a obra com uma imagem tão impactante que prenda a atenção de todos. O personagem deve ter sempre um objetivo na história. E o que o faz inicialmente ir atrás desse objetivo é um Incidente (Inciting Incident), um Distúrbio que acontece em sua vida que o obriga a agir. O Incidente é evento que faz o personagem principal reagir e ir atrás de seus desejos. Uma ligação no meio da noite, um rapto, um chamado. O distúrbio não precisa ser algo grandioso e impactante. Pode ser sutil como uma campainha sendo tocada. Ele cria um interesse para a audiência, prometendo um desenvolvimento interessante no futuro. O Gancho, se não tiver sido utilizado anteriormente, pode ser incorporado junto com o Incidente. Podemos inclusive começar a história com um Incidente junto com o Gancho, se optarmos por não retratar o Mundo Ordinário. Muitas vezes, em seriados e revistas sequenciadas, não há a necessidade constante de expormos o Mundo Ordinário do personagem, pois este já é bem conhecido. Logo, é mais comum este tipo de história se iniciar já com o Incidente junto do Gancho. O Ato I estará perto do fim quando o escritor já estiver situado sua audiência na obra. Quando os leitores/espectadores souberem quem é o personagem principal, onde ele está, o que ele quer e contra quais obstáculos ele irá lutar, será o momento de transição para o Ato II. Esse Primeiro Ponto de Transição deve marcar a passagem do personagem de seu Mundo Ordinário para um novo mundo, desconhecido e permeado por mudanças. O ideal é agora não haver chance de retorno do protagonista para sua antiga vida, ou seja, uma linha divisória foi cruzada. É comum esse Ponto de Transição vir acompanhado de uma cena ou imagem impactante (impacto visual destacado). O Ato II Provavelmente, a escrita do Ato II seja a tarefa mais complicada de se fazer em uma obra. Correspondendo a praticamente mais da metade de uma história, o Ato II deve ser construído de maneira que mantenha o interesse da audiência e prepare terreno para o grande final. Não é tarefa fácil. O escritor deve começar a intensificar e desenvolver os obstáculos enfrentados pelo protagonista. Deixe-o com muitos problemas. Você deve tentar convencer a audiência de que o personagem principal está em apuros e não vai conseguir o seu objetivo. Escreva cenas que estiquem a tensão, aumente o que está em disputa e mantenha os leitores/espectadores preocupados, caminhando em direção ao Ato III de forma inevitável. É o princípio da Ação Crescente (Rising Action), ou seja, a cada cena, o enredo vai tornando-se mais intenso, a ação maior, cada perigo mais ameaçador, cada dificuldade mais complicada, tudo mais complicado do que veio anteriormente. Lembre-se que ação nem sempre significa luta física. Outra maneira de desenvolver o Ato II é trabalhar com Subenredos (Subplots), dando mais destaque para personagens secundários e suas relações entre si e com o personagem principal. Os Subenredos mostram outros lados da vida do protagonista, e também são utilizados para construir maior credibilidade para o mundo ficcional retratado pelo autor, dando uma dimensão de variedade e às vezes desvinculando um pouco a história do seu objetivo principal, fornecendo fôlego para a audiência. Esses Subenredos devem ser tratados da mesma maneira que o enredo principal, sempre caminhando em direção a uma conclusão. Não caia no erro de, por exemplo, iniciar um Subenredo de romance e no final da obra não conclui-lo. Só não esqueça que em algumas ocasiões, o ideal não é acrescentar personagens e subenredos, e sim retirar. Muitas obras acrescentam no Ato II uma nova reviravolta chamada de Midpoint (Ponto Central), fazendo com que basicamente a estrutura tenha 4 atos, acelerando e intensificando os conflitos. É como se fosse o ponto central do Ato II. Quando o escritor desenvolver as situações e complicações, e houver preparado o caminho para o final, chega-se ao fim do Ato II. É hora do Segundo Ponto de Transição, que é o caminho sem volta para o Clímax. Novamente, o Ponto de Transição pode ser marcado com uma cena ou imagem impactante (impacto visual destacado). É bom salientarmos que o enredo pode ter inúmeros Pontos de Transição, ou seja, pontos de mudança na história. Porém, de todos esses pontos, o ideal é apenas dois terem grande destaque. Ato III O início do Ato III é literalmente o início do fim. O protagonista começa a decidir o seu principal problema. É sempre interessante fazer uma cena final de confronto, chamada de Clímax. Deve ser algo grandioso para o personagem, o momento de definição. A luta contra um inimigo mortal ou a simples resposta da pessoa amada. O Clímax deve ser recheado de suspense e tensões. O Ato III deve ser curto, no máximo 15% da obra, e no fim praticamente todos os conflitos mostrados na história devem alcançar um desfecho, mesmo que seja um desfecho misterioso ou aberto, mas que deve ser pelo menos sugerido. Nunca deixe a audiência na dúvida sobre exatamente como ou porque algo aconteceu (a não ser que seja sua intenção). Após o Clímax, muitas histórias acabam com um Epílogo (Denouement), uma cena breve que lentamente desliga a audiência do mundo ficcional. O Epílogo pode ser também utilizado para responder algumas questões deixadas pra trás, destacar as mudanças realizadas nos personagens (arcos dos personagens), ou indicar o que acontecerá com eles depois. Mas seja sempre breve. Um dos erros mais incômodos é quando o escritor prolonga o epílogo além do necessário, arrastando a obra por minutos aparentemente intermináveis. Quando uma história não se encerra totalmente com o Ato III, como no caso de algumas histórias em quadrinhos e séries continuadas, o escritor tem a opção de deixar um Gancho no final para atiçar a curiosidade da audiência e fazer com que ela assista a sequência. Esse Gancho final é chamado tecnicamente de Cliffhanger. Um dos exemplos mais conhecidos de Cliffhanger no cinema é o final do primeiro De Volta para o Futuro, que já deixa o caminho aberto para uma continuação. CONCLUSÃO O que foi detalhado acima é apenas o esqueleto, a base de uma obra. Seu recheio deve vir com a habilidade do escritor e de seu estudo sobre personagens, cenários, diálogos, finais, etc. De forma alguma essa estrutura deve ser seguida de forma rígida, mas sim deve ser vista como um ponto de partida para a sua criatividade. Tente identificar nas obras (filmes, livros e histórias em quadrinhos) os Atos e os Pontos de Transição. Muitas vezes você vai ficar na dúvida, mas isso é normal pois nem sempre o escritor define estas etapas conscientemente. Lembre-se: não há uma maneira exata de fazer uma história, mas quanto mais você estudar e ler, mais fontes de "inspiração" terá. Bons Estudos!
tópicos sobre narrativa, roteiros e mundos virtuais
Além do Cotidiano
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A Estrutura de Uma História

Por Sandro Massarani Para um melhor entendimento deste texto leia antes Elementos Fundamentais de uma História. Não esqueça de usar para o rascunho e planejamento de sua obra a Ficha de História (PDF). INTRODUÇÃO Chega uma hora que o fã de cinema, quadrinhos, literatura e outros tipos de arte, deseja contar a sua própria história. Por achar que já leu diversas obras e que viu bastantes filmes, acha que basta sentar em sua cadeira e começar a escrever que a inspiração irá lhe abençoar e que apenas sua experiência como leitor/espectador será suficiente. O resultado na maioria das vezes é desastroso. A escrita de uma história não deve ser feita somente por instinto. O verdadeiro escritor cria o seu método, e planeja com detalhes sua obra antes de começar a efetivamente escrevê-la. É lógico que há exceções, mas é cada vez mais raro uma obra de qualidade ser feita de forma amadora e sem planejamento. O trabalho do escritor é muito mais transpiração do que inspiração. Inspiração vem como consequência de você ter a disciplina para analisar centenas de histórias, de todo dia criar pelo menos uma página, de pensar na escrita como algo constante. Pode parecer um discurso batido, mas na vida é a persistência junto com o estudo que realmente lhe dá maiores chances. Portanto, escrever uma história não é simplesmente sentar e colocar no papel ou no computador o que vier na sua cabeça. Deve haver uma estrutura por trás de tudo. Aristóteles, um dos mais antigos filósofos e pai da construção narrativa já dizia: toda história deverá ter início, meio e fim. Vamos então desenvolver as idéias de Aristóteles e de outros estudiosos da escrita. Só nunca esqueçam de que as regras são feitas para serem quebradas, e que nunca devemos nos tornar escravos dessas regras. Aprenda a teoria ensinada nas universidades, livros e cursos de escrita, mas aplique seu próprio método e estilo. A ESTRUTURA DOS ATOS À partir da premissa de que toda história tem início, meio e fim, podemos transformar essas etapas em atos: Ato I (início), Ato II (meio) e Ato III (fim). Alguns autores, como Shakespeare, utilizam outras estruturas como a de cinco atos, mas acredito que toda história possa ser, de uma forma ou de outra, sintetizada em apenas três atos, nem que seja para facilitar o aprendizado e ser nosso ponto de partida. Esquema da Estrutura dos Atos ATO I (30%) | Mundo Ordinário e/ou Gancho (Hook) | O Incidente - Distúrbio (Inciting Incident) e/ou Gancho (Hook) | Estabelecer situação e conflito | Primeiro Ponto de Transição (Plot Point) | ATO II (55%) | Desenvolver e complicar a situação | Ponto Central (Midpoint - opcional) | Desenvolver e complicar a situação preparando para o Clímax | Segundo Ponto de Transição (Plot Point) | ATO III (15%) | Eventos iminentes que levam ao Clímax | Clímax - Impacto Visual Destacado | Epílogo (Denouement) ou Cliffhanger (Gancho para a continuação) O Ato I É o Ato introdutório, que não deve durar mais do que 30% da história (às vezes bem menos), senão corre o risco da audiência perder o interesse na obra devido à falta de um conflito central bem definido. O introduzir do Ato I pode ser marcado pela descrição do Mundo Ordinário do personagem principal. No início de sua história, você começa descrevendo o personagem em seu mundo comum, na sua vida cotidiana. O que ele geralmente faz no dia-a-dia. E é nesse lugar que ele vai ficar a não ser que algo faça ele mudar. Então bem cedo no Ato I, algo tem que perturbar (algum incidente) o Status Quo (a situação estática). Alguma coisa sempre tem que estar acontecendo, alguma ameaça ou conflito para o personagem, senão o leitor/escpectador ficará entediado. Se você não quiser começar a história com o Mundo Ordinário do personagem, comece-a utilizando um Gancho (Hook). O Gancho é algo que aparece no início da obra e faz a história se mover (sempre mova a história) e prende o leitor a continuar assistindo ou lendo. Por exemplo, um assassinato misterioso pode ser o Gancho inicial de uma história, e só depois é que seremos apresentados ao personagem principal e ao seu mundo cotidiano. Geralmente, o Gancho deve vir o mais rápido possível, para manter a audiência atenta. Outro Gancho interessante é começar a obra com uma imagem tão impactante que prenda a atenção de todos. O personagem deve ter sempre um objetivo na história. E o que o faz inicialmente ir atrás desse objetivo é um Incidente (Inciting Incident), um Distúrbio que acontece em sua vida que o obriga a agir. O Incidente é evento que faz o personagem principal reagir e ir atrás de seus desejos. Uma ligação no meio da noite, um rapto, um chamado. O distúrbio não precisa ser algo grandioso e impactante. Pode ser sutil como uma campainha sendo tocada. Ele cria um interesse para a audiência, prometendo um desenvolvimento interessante no futuro. O Gancho, se não tiver sido utilizado anteriormente, pode ser incorporado junto com o Incidente. Podemos inclusive começar a história com um Incidente junto com o Gancho, se optarmos por não retratar o Mundo Ordinário. Muitas vezes, em seriados e revistas sequenciadas, não há a necessidade constante de expormos o Mundo Ordinário do personagem, pois este já é bem conhecido. Logo, é mais comum este tipo de história se iniciar já com o Incidente junto do Gancho. O Ato I estará perto do fim quando o escritor já estiver situado sua audiência na obra. Quando os leitores/espectadores souberem quem é o personagem principal, onde ele está, o que ele quer e contra quais obstáculos ele irá lutar, será o momento de transição para o Ato II. Esse Primeiro Ponto de Transição deve marcar a passagem do personagem de seu Mundo Ordinário para um novo mundo, desconhecido e permeado por mudanças. O ideal é agora não haver chance de retorno do protagonista para sua antiga vida, ou seja, uma linha divisória foi cruzada. É comum esse Ponto de Transição vir acompanhado de uma cena ou imagem impactante (impacto visual destacado). O Ato II Provavelmente, a escrita do Ato II seja a tarefa mais complicada de se fazer em uma obra. Correspondendo a praticamente mais da metade de uma história, o Ato II deve ser construído de maneira que mantenha o interesse da audiência e prepare terreno para o grande final. Não é tarefa fácil. O escritor deve começar a intensificar e desenvolver os obstáculos enfrentados pelo protagonista. Deixe- o com muitos problemas. Você deve tentar convencer a audiência de que o personagem principal está em apuros e não vai conseguir o seu objetivo. Escreva cenas que estiquem a tensão, aumente o que está em disputa e mantenha os leitores/espectadores preocupados, caminhando em direção ao Ato III de forma inevitável. É o princípio da Ação Crescente (Rising Action), ou seja, a cada cena, o enredo vai tornando-se mais intenso, a ação maior, cada perigo mais ameaçador, cada dificuldade mais complicada, tudo mais complicado do que veio anteriormente. Lembre-se que ação nem sempre significa luta física. Outra maneira de desenvolver o Ato II é trabalhar com Subenredos (Subplots), dando mais destaque para personagens secundários e suas relações entre si e com o personagem principal. Os Subenredos mostram outros lados da vida do protagonista, e também são utilizados para construir maior credibilidade para o mundo ficcional retratado pelo autor, dando uma dimensão de variedade e às vezes desvinculando um pouco a história do seu objetivo principal, fornecendo fôlego para a audiência. Esses Subenredos devem ser tratados da mesma maneira que o enredo principal, sempre caminhando em direção a uma conclusão. Não caia no erro de, por exemplo, iniciar um Subenredo de romance e no final da obra não conclui-lo. Só não esqueça que em algumas ocasiões, o ideal não é acrescentar personagens e subenredos, e sim retirar. Muitas obras acrescentam no Ato II uma nova reviravolta chamada de Midpoint (Ponto Central), fazendo com que basicamente a estrutura tenha 4 atos, acelerando e intensificando os conflitos. É como se fosse o ponto central do Ato II. Quando o escritor desenvolver as situações e complicações, e houver preparado o caminho para o final, chega-se ao fim do Ato II. É hora do Segundo Ponto de Transição, que é o caminho sem volta para o Clímax. Novamente, o Ponto de Transição pode ser marcado com uma cena ou imagem impactante (impacto visual destacado). É bom salientarmos que o enredo pode ter inúmeros Pontos de Transição, ou seja, pontos de mudança na história. Porém, de todos esses pontos, o ideal é apenas dois terem grande destaque. Ato III O início do Ato III é literalmente o início do fim. O protagonista começa a decidir o seu principal problema. É sempre interessante fazer uma cena final de confronto, chamada de Clímax. Deve ser algo grandioso para o personagem, o momento de definição. A luta contra um inimigo mortal ou a simples resposta da pessoa amada. O Clímax deve ser recheado de suspense e tensões. O Ato III deve ser curto, no máximo 15% da obra, e no fim praticamente todos os conflitos mostrados na história devem alcançar um desfecho, mesmo que seja um desfecho misterioso ou aberto, mas que deve ser pelo menos sugerido. Nunca deixe a audiência na dúvida sobre exatamente como ou porque algo aconteceu (a não ser que seja sua intenção). Após o Clímax, muitas histórias acabam com um Epílogo (Denouement), uma cena breve que lentamente desliga a audiência do mundo ficcional. O Epílogo pode ser também utilizado para responder algumas questões deixadas pra trás, destacar as mudanças realizadas nos personagens (arcos dos personagens), ou indicar o que acontecerá com eles depois. Mas seja sempre breve. Um dos erros mais incômodos é quando o escritor prolonga o epílogo além do necessário, arrastando a obra por minutos aparentemente intermináveis. Quando uma história não se encerra totalmente com o Ato III, como no caso de algumas histórias em quadrinhos e séries continuadas, o escritor tem a opção de deixar um Gancho no final para atiçar a curiosidade da audiência e fazer com que ela assista a sequência. Esse Gancho final é chamado tecnicamente de Cliffhanger. Um dos exemplos mais conhecidos de Cliffhanger no cinema é o final do primeiro De Volta para o Futuro, que já deixa o caminho aberto para uma continuação. CONCLUSÃO O que foi detalhado acima é apenas o esqueleto, a base de uma obra. Seu recheio deve vir com a habilidade do escritor e de seu estudo sobre personagens, cenários, diálogos, finais, etc. De forma alguma essa estrutura deve ser seguida de forma rígida, mas sim deve ser vista como um ponto de partida para a sua criatividade. Tente identificar nas obras (filmes, livros e histórias em quadrinhos) os Atos e os Pontos de Transição. Muitas vezes você vai ficar na dúvida, mas isso é normal pois nem sempre o escritor define estas etapas conscientemente. Lembre-se: não há uma maneira exata de fazer uma história, mas quanto mais você estudar e ler, mais fontes de "inspiração" terá. Bons Estudos!