Distâncias do Olhar e da Câmera no Cinema
e nos Quadrinhos
Por Sandro Massarani
As principais técnicas visuais de narrativa já foram sendo desenvolvidas desde
o estabelecimento do cinema como mídia no final do século XIX e início do
século XX. Inovadores como D.W. Griffith vão se apropriar dos métodos dos
escritores literários clássicos para poder estabelecer de maneira convincente
o ambiente em uma obra cinematográfica.
Griffith e outros revolucionários vão popularizar a técnica de primeiro mostrar
uma tomada de longa distância, introduzindo o lugar, depois passar para uma
tomada de média distância, introduzindo o interior do local e personagens, e
depois usar tomadas de curta distância para aumentar o efeito dramático.
Três tomadas distintas que formam uma narrativa contínua e situa o
espectador na obra.
Tanto no cinema quanto nos quadrinhos, o roteirista tem que saber dominar
as técnicas de posicionamento e ângulo do olhar para contar a história de
uma maneira eficaz, satisfazendo a audiência. É sempre bom lembrar que o
roteirista, principalmente no cinema, não deve ficar sempre escolhendo os
ângulos e dando ordens ao diretor (ou ao desenhista nos quadrinhos), mas
ele precisa ter esse conhecimento para melhor construir e imaginar a obra.
Abaixo descrevo seis diferentes distâncias que a câmera ou o olhar no cinema
e nos quadrinhos podem nos fornecer. Logicamente, a classificação dessas
distâncias vai variar de acordo com o pesquisador, mas o importante é
termos a noção de que o posicionamento desses olhares tem funções
dramáticas próprias. Para cada distância forneço um exemplo retirado dos
quadrinhos e outro dos filmes.
1. Extreme Long Shot (Tomada de Extrema Longa Distância) ou Bird's Eye
View (Visão de Pássaro)
B.P.R.D The Universal Machine (2006) - Mike Mignola e John Arcudi
Blade Runner (1982) - Riddley Scott
Esse é o tipo de olhar mais distante e mostra toda ou a maior parte do
ambiente através de uma visão longínqua, ideal para grandes paisagens e
para a introdução de grandes locais, mostrando muitas vezes cidades inteiras.
Muito utilizado quando a atmosfera e o clima de um ambiente é essencial
para o entendimento do conjunto da obra ou há uma mudança muito radical
de localidade, geralmente criando imagens marcantes. Se esse não for o caso,
use-o moderadamente.
2. Long Shot (Tomada de Longa Distância) ou Wide Shot (Tomada Aberta)
Transmetropolitan 9 (1998) - Warren Ellis e Darick Robertson
The Third Man (1949) - O Terceiro Homem - Carol Reed
A Long Shot mostra parte considerável do ambiente. Também usado para
introduzir e estabelecer um novo local, mas não de maneira tão distante
quanto o Extreme Long Shot. Utilizada com frequência quando o filme
necessita criar uma atmosfera bem peculiar.
É bom notarmos que a diferença entre Extreme Long Shot e Long Shot é difícil
de ser medida, havendo um largo espaço intermediário que pode ser
classificado em ambos os olhares.
3. Medium Long Shot (Tomada de Média Longa Distância)
Contract with God (1978) - Will Eisner
Schindler's List (1993) - A Lista de Schindler - Steven Spielberg
Existem muitas divergências em relação a linha que separa um Long Shot de
um Medium Shot. Por isso, alguns estudiosos estabeleceram a categoria de
Medium Long Shot, que se não chega a mostrar um ambiente de forma
distante, também não se aproxima muito de determinados objetos,
geralmente mostrando o corpo todo de um indivíduo a confortável distância.
Muitas cenas, principalmente em ambientes já visitados anteriormente, se
iniciam já em Medium Long Shot.
4. Medium Shot (Tomada de Média Distância)
Maus (1991) - Art Spielgman
Cet Obscur Objet du Désir (1977) - Este Obscuro Objeto do Desejo - 1977 - Luís
Buñuel
Esse tipo de distância geralmente mostra as pessoas do joelho para cima,
valorizando o movimento corporal, mas em contrapartida não sendo muito
eficaz para retratar as expressões faciais. É o olhar mais utilizado para mostrar
diálogos.
5. Close-Up
Green Lantern 76 (1970) - Denny O'Neal e Neal Adams
Annie Hall (1977) - Noivo Neurótico, Noiva Nervosa - Woody Allen
Um Close-Up tradicional aproxima a câmera de uma pessoa ou objeto,
geralmente mostrando somente os ombros e a cabeça de um personagem.
Quanto mais próximo o olhar está de um personagem, maior é a tendência da
audiência obter simpatia por ele. Isto por que o Close-Up nos fornece uma
proximidade física com este personagem, invadindo seu espaço íntimo. O
Close-Up também pode ser utilizado para evocar medo ou repulsa se utilizado
em um personagem já estabelecido como antagonista. Nesse caso a
audiência vai querer escapar do Close-Up.
6. Extreme Close-Up (Close-Up Extremo)
Sandman 23 (1991) - Neil Gaiman, Kelley Jones e Malcom Jones III
Citizen Kane (1941) - Cidadão Kane - Orson Welles
Um Extreme Close-Up filma partes bem específicas de uma pessoa ou objeto,
como somente os lábios ou a orelha.
Esse olhar nos mostra objetos e pessoas de formas diferentes da que
estamos acostumados a vê-las. Geralmente fornece um forte efeito
dramático, como por exemplo quando filma-se o cano de um revólver
atirando.
***
Passe a analisar essas distâncias e olhares distintos nas revistas em
quadrinhos e nos filmes, percebendo que cada uma delas provoca um efeito
narrativo diferente. O que vimos aqui foi apenas o básico, e partindo desse
básico, o estudante pode depois aprender mais facilmente diversas variantes
técnicas como a inclinação do olhar, a rotação da imagem, entre outras.
Bons estudos!
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