A Bela e a Fera (1946)
Por Sandro Massarani
Nome: A Bela e a Fera
Rating: 10 / 10
Nome Original: La Belle et la Bête
Ano: 1946
País: França
Cor: P/B
Duração: 95 min.
Dirigido por: Jean Cocteau
Escrito por: Jean Cocteau, baseado na obra de Jeanne-Marie Leprince de
Beaumont
Estrelado por: Jean Marais, Josette Day, Marcel André, Michel Auclair
"Existem homens muito mais monstruosos que você,
embora escondam muito bem".
Enredo:
Ao encontar um sombrio castelo e roubar uma rosa do seu jardim, um velho
mercador é sentenciado a morte por um monstro em roupas de príncipe. O
mercador recebe a permissão para voltar para casa, mas deve retornar em três
dias ou enviar uma de suas filhas em seu lugar. Bela, a filha mais devotada e
sempre humilhada pelas irmãs, foge para salvar o pai, iniciando uma relação de
ódio e atração com o misterioso habitante do castelo.
Histórico:
Jean Cocteau é um completo artista, não se limitando a apenas uma mídia. É um
verdadeiro criador, onde não importa o meio, ele quer expressar seus
sentimentos. Seja na pintura, na escultura, no teatro, nos livros ou no cinema. O
interessante é que Cocteau se considerava um poeta, e para ele tudo se resumia
a poemas. Podemos então resumir sua obra prima A Bela e a Fera em uma só
palavra: poesia.
Em 1946 a França estava devastada pela Segunda Guerra. O país tinha sido
invadido e conquistado com certa facilidade pela Alemanha no início do conflito
e agora tentava se reorganizar, buscando sua reconstrução econômica e
política. Os recursos eram escassos, e é realmente incrível que um filme de uma
remarcável qualidade cenográfica tenha sido feito nessas condições. O próprio
Cocteau ficou hospitalizado durante as filmagens. Mas ele sabia que se fizesse
poesia, superaria as dificuldades, e quem sabe recuperaria um pouco da
fantasia francesa devastada pelos seguidos anos de luta.
Filmes mágicos e adultos como A Bela e a Fera são raros hoje em dia. Há
momentos que claramente percebemos conotações sexuais, e o surrealismo
implantado na obra não é um surrealismo carente de significados, e sim um
complemento fundamental à narrativa. O mercado para filmes com toques
surrealistas decresceu de maneira assustadora. O próprio Cocteau já reclamava
que o cinema estava se tornando palco de empresários e que estava movendo
somas de dinheiro cada vez maiores. Exigem do filme um imediatismo, reflete o
diretor. O livro pode esperar e uma peça de teatro pode reviver. Mas o
cinema...esse sim para ele é o mais prejudicado pela sociedade do espetáculo
superficial.
Logicamente a versão mais conhecida deste conto é a da Disney de 1991, que
apesar de também ser muito bem construída não tem um apelo tão maduro
quanto à versão francesa. Há relatos de que Greta Garbo (alguns dizem Marlene
Dietrich) teria gritado para Cocteau ao fim do filme: "Tragam de volta a minha
Fera!" Isso por que Cocteau e Marais nos fornecem um personagem tão
fascinante, que quando ele se torna um insosso príncipe em uma casca
humana, todo o encanto desaparece. A Fera era melhor do que qualquer
príncipe, e a Bela finalmente descobriu que na vida não podemos querer tudo.
Prós:
- É um conto de fadas no sentido tradicional, ou seja, sombrio e com lições nem
sempre fáceis de compreender.
- Alto grau de simbolismo.
- O visual é deslumbrante, a fotografia é magistral, a magia aflora na tela. Temos
estátuas cujos olhos acompanham as ações, mãos que surgem para segurarem
candelabros, efeitos simbólicos como fumaça saindo dos dedos da Fera. E o
mais incrível para os jovens fãs de cinema: tudo sem computador. Para alguns,
o cenário e os efeitos especiais podem parecer inferiores aos criados hoje pela
informática, porém, todos os efeitos exalam emoção e sinceridade, algo muito
difícil de se fazer apenas com a aplicação de números binários.
- A máscara da Fera é extremamente realista, com destaque para a articulação
da boca, e o personagem consegue o efeito desejado por Cocteau, o de agradar,
o de demonstrar um ar de superioridade.
Contras:
- Tirando a Fera, todos os personagens são bem estereotipados, mesmo que as
atuações sejam bem convincentes.
- Provavelmente por falta de recursos, o filme não tem muitas tomadas de longa
distância, que geralmente são fundamentais para estabelecer o ambiente.
Devo Assistir ?
Não é um filme infantil. A Bela e a Fera é um raro filme de fantasia com tema
adulto, surrealista, e não segue uma história romântica leve. Prova que é
possível fazer gente grande sonhar. Assista esquecendo completamente a
versão Disney.
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