Os Sete Samurais (1954)
Por Sandro Massarani
Nome: Os Sete Samurais
Rating: 10 / 10
Nome Original: Shichi-Nin No Samurai
Ano: 1954
País: Japão
Cor: Preto e Branco
Duração: 207 min.
Dirigido por: Akira Kurosawa
Escrito por: Shinobu Hashimoto, Akira Kurosawa, Hideo Oguni.
Estrelado por: Toshiro Mifune, Takashi Shimura, Yoshio Inaba, Seiji Miyaguchi,
Minoro Chiaki, Daisuke Kato, Ko Kimura
"Ache samurais famintos".
Enredo:
No Japão do século XVI, de senhores feudais poderosos e guerras constantes,
uma pequena vila decide contratar sete guerreiros samurais para protegê-la do
ataque de quarenta terríveis bandidos. Nenhuma sinopse decente consegue
resumir esse filme. É impossível.
Histórico:
Kurosawa desejava fazer um filme baseado nos faroestes americanos, e acabou
alterando a maneira destes serem feitos, ao acrescentar um toque da
cinemática e profundidade dramática japonesa no estilo.
O conflito principal do filme parte da idéia de que os samurais e os fazendeiros
não podem se misturar, pois são de castas sociais distintas em um mundo sem
mobilidade social. Algo como se os cavaleiros medievais tivessem que se
misturar com os miseráveis camponeses europeus. No mundo ocidental pós-
Revolução Francesa, de igualdade perante a lei, fica um pouco mais difícil de
entendermos esse conflito, pois hoje justificamos nossos preconceitos ou de
forma racial ou econômica. Antes do século XVIII há o peso da tradição, do
nascimento e da família, algo que está bem enfraquecido no século XXI, e que
movimenta a desconfiança dos fazendeiros e a relutância dos samurais, que
acabam aceitando o serviço em troca de comida.
É interessante notarmos que todos os samurais do grupo são ronins, ou seja,
samurais sem mestre. No Japão do século XVI, o imperador não tinha poder
absoluto, sendo muitas vezes apenas figurativo, e as terras eram disputadas por
poderosos senhores feudais (Daimios) que contratavam o serviço dos samurais.
Quando o senhor era assassinado, os guerreiros passavam a vagar pelas terras
em busca de serviço, e muitos acabavam morrendo de fome ou fazendo
qualquer tipo de trabalho, tornando-se inclusive bandidos.
O resgate do samurai como um herói, mas um herói com falhas, está ligado ao
contexto do Japão após a grave derrota na Segunda Guerra Mundial. Em 1954,
época de lançamento do filme, o país atravessava um período delicadíssimo de
reconstrução e necessitava novamente acreditar nos seus valores e na força de
sua história. Ao invés de retratar valores como lealdade cega e suicida,
Kurosawa retrata uma lealdade mais racional, e ao admitir falhas nos samurais,
mostra aos japoneses que o homem mesmo não alcançando a perfeição, pode
se redimir e se recuperar. E foi o que aconteceu.
A influência de Os Sete Samurais no cinema norte-americano da segunda metade
do século XX fica até difícil de ser medida. Em 1960 foi lançado nos Estados
Unidos o remake do filme, chamado Sete Homens e um Destino, dirigido por John
Sturges e com um elenco estelar (Yul Brynner, Steve McQueen, Charles
Bronson). Os direitos de roteiro para o remake foram adquiridos por
inacreditáveis 250 dólares e a película fez grande sucesso, principalmente por
transportar a época do Japão feudal para o oeste americano e diluir bem o
drama, tornando-o mais acessível ao "grande" público.
Outros dois filmes de Kurosawa também teriam impacto irreversível no gênero
de ação. Sergio Leone em 1964 inventou o Faroeste Spaghetti (faroeste feito na
europa) ao fazer o remake de Yojimbo, chamado Por um Punhado de Dólares, que
lançaria a carreira de Clint Eastwood e se tornaria uma trilogia. E Guerra nas
Estrelas (1977), de George Lucas, teve inspiração direta de A Fortaleza Escondida
(1958). Logo, todos os filmes de ação tem de uma forma ou de outra a marca do
grande diretor japonês.
Prós:
- É o melhor filme de ação já feito, praticamente inventando o gênero como
conhecemos hoje.
- Fica difícil saber qual emoção humana não é retratada ao longo das três horas
e meia de filme.
- Além de todo destaque aos combates, também é uma obra prima do drama e
da criação de personagens. Cada samurai tem uma história única e muito bem
poderia cada um ter seu próprio filme.
- Os samurais não são vistos como heróis infalíveis, como era o comum nos
filmes japoneses da época. São humanos e cometem falhas.
- A atuação de todo o elenco é monumental, e há de se reconhecer que Toshiro
Mifune é um dos melhores atores que o cinema já viu. Apenas artistas do mais
alto nível conseguiriam interpretar sua fala na cena quando descobrem que ele
é filho de fazendeiro que quer se passar por samurai. Shimura, o líder dos
samurais, também tem excelente atuação. Sua mania de colocar sempre a mão
na cabeça após ter de raspá-la é uma importante caracterização do
personagem.
Contras:
- Tenha cuidado com as versões mais curtas. Ao errôneamente achar que todo
interessado por cinema não consegue suportar um filme longo, os produtores
acabam reduzindo a obra de maneira às vezes intrusiva. Há diversas versões
reduzidas dos Sete Samurais, sendo a mais comum a com uma hora a menos,
lançada inicialmente nos EUA. Essa prática de redução de filmes continua até
hoje, pois um filme longo ocupa um maior tempo nas sessões de cinema e
reduz os lucros. Além disso, virou mania entre os diretores e produtores
fazerem finais alternativos e cenas extras de segundos ou minutos somente
para venderem mais DVDs, dizendo serem edições especiais.
Devo Assistir ?
Os Sete Samurais, como muitos dos filmes de Kurosawa, não é um filme típico
japonês, pois o diretor possui influências ocidentais. Isso o torna acessível a
todo o público. Além da ação, há drama, romance e suspense, agradando o
mais crítico dos espectadores.
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